AGENDA CULTURAL

17.9.14

Trocas dolorosas

Hélio Consolaro*

Não sei, caro leitor, se você passou por essas experiências que vou contar. Em caso afirmativo, com certeza, vai concordar com este cronista.

Há três coisas na vida cuja troca é dolorosa,são quase um recomeço de vida. Deixam-me com os nervos à flor da pele.

Trocar o computador por exemplo. Hoje, está um pouco mais simples com o aplicativo de arquivo nas nuvens, mas assim mesmo ainda é uma tarefa difícil.

Com vários aplicativos instalados, pagos, por exemplo, a troca de máquina causa transtornos. Às vezes, tolero a lerdeza da máquina porque não quero passar por apuros de experiências anteriores. A troca de celular está no mesmo nível de dificuldades. Se o usuário não teve cuidados no registro de sua agenda, também terá sérias dores de cabeça.
Registrar os endereços nas nuvens ajuda, evita a perda de números de telefones de gente importante em sua vida, nos seus negócios.

A outra troca estafante é a de carro. Transferência de seguro, legalização de propriedade, colocar os acessórios indispensáveis à sua vida de motorista, licenciamento, pagamento de impostos. Meu carro pode ser velho, mas não dispenso alarme, trava eletrônica, suspensão remota dos vidros, aparelho de som. Comecei com um fusca, mas paulatinamente fui me acostumando com as mordomias.

Atualmente, ar condicionado no carro é uma necessidade. Não precisa correr muito, nem ser representante de minha posição na sociedade: quero carro útil, prático, com certo conforto. Afinal, sou um sexagenário, está na hora de gozar de alguns confortos.

A próxima troca complicada, não sei se o caro leitor passou por isso, é trocar de mulher. Não vou abordar a troca de homem, porque sou hétero. Vamos supor que os dois são dois descamisados, separam-se apenas os tarecos. Isso é meu, não é, você está me roubando. Qualquer coisinha é motivo de baixaria.

Há complicação burocrática na separação de filhos. A briga acaba no fórum, porque se houvesse maturidade, talvez nem haveria separação. O bem vira bens. Até o livro de Neruda, como canta Vinícius de Morais, entra na dança. Tudo machuca.

Trocar, mudar, caro leitor, sempre gera incômodos, estranhamentos, mas precisamos fazê-los. Avançar em nossas posições, trocar de mentalidade, aliados e adversários novos. Já até me disseram, uma forma de consolo, que se adaptar às mudanças é sinal de inteligência. Viver apaixonadamente.


Ser atarraco ao velho, chegar ao saudosismo como modo de vida, é burrice. Neste final de texto, cheguei à conclusão de que sou um pouco dos dois.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

 


     

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