AGENDA CULTURAL

27.10.14

Compreensão e ternura após a campanha eleitoral

Hélio Consolaro*

Nesta campanha de 2014, poucos ficaram indiferentes à  campanha eleitoral. Como sou um agente político (secretário municipal desde 2009), filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1985, a minha vida em época de campanha eleitoral (com interregno de 15 anos, atuando no jornalismo) tem uma pulsação política muito forte.

Caro leitor, vai aqui um conselho. Se perdeu a amizade com alguém por causa de política, reconcilie, deixe passar algum tempo, até a mágoa desaparecer, retorne à amizade, porque não vale a pena comprometer antigas amizades por causa de política. Os próprios políticos não fazem isso, procuram se manter no protocolo para evitar momentos desagradáveis.  

Então, como postei na minha página do Facebook, nasceu o meu quarto neto, Caio Kenji Consolaro Kanezawa. Ia nascer em fins de outubro; só por ser um libriano como o avô, já me deixara contente. 

Pedi a Deus um sinal dizendo que a candidata Dilma fosse ganhar. E Ele foi muito eloquente: o moleque se antecipou em duas semanas, nasceu no dia 13 e a mãe foi internada no quarto 413 do Hospital da Unimed. Constatei isso depois dos fatos consolidados.

Quando me dei com a numeração petista, entendi a mensagem divina. Fiquei quieto porque os avós Minoru e Tieko eram 45, e o menino nascera com o saco vermelho. Os milagres acontecem, basta ter olhos para lê-los. 

Há um outro fato interessante na minha família. Meu mano Gegê faz parte do governo estadual do PSDB, eu, do governo municipal do PT, ambos em Araçatuba. Como dizia o velho Moisés: "Olha o capeta na casa do terço". Nas reuniões familiares, não tocamos em política; no cotidiano, agimos em áreas diferentes e não levamos problemas para o outro resolver na base do "jeitinho brasileiro".

Durante as campanhas eleitorais, também nessa de 2014, a casa de nossa mãe fica num lugar estratégico, bom para pôr um painel de propaganda eleitoral, mas nenhum dos dois, num acordo tácito, não se atreve a usar politicamente aquele quintal. A convivência dos diferentes é possível quando há o respeito.

Outro fato interessante que me emocionou foi a manifestação de meus vizinhos. Moro no quarteirão há 32 anos, fui professor daqueles moços e moças, quando carro e ambulância eram difíceis, levei gente para o hospital. A Helena, minha esposa, conversa com todos, é a embaixadora. Os vizinhos conhecem minha vida nos detalhes.

No sábado à tarde, a vizinha da frente me viu saindo de carro, chegou perto e me disse:

- Professor, não se preocupe, a vizinhança aqui vai votar na Dilma!

Como havia um morador com carro adesivado "Aécio" no quarteirão, o recado fora dado subliminarmente: "aquele sujeito não está com nada".

Apesar de uma disputa eleitoral ser o simulacro de uma guerra, encontro muito misticismo e ternura na leitura desses fatos. Eles me fazem tocar a vida em frente.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

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