AGENDA CULTURAL

5.3.10

Mãos cheias de livros

À direita, José Mindlin;à esquerda, sua esposa, Guita 

Hélio Consolaro


Na roça, quando meu pai dizia que ia estudar os filhos, muitos eram contra, porque quem estudava muito ficava doido. Assim era a crença entre os colonos pobres. Ler muito não era bom.


Os quatro filhos de Seu Luís e Dona Augusta estudaram e nenhum endoideceu de sair pelo mundo e lutar contra os moinhos de vento. Cada um tem suas esquisitices e paramos por aí. Este croniqueiro nunca queimou dinheiro.


Um mundo sem livros até pode existir, mas sem leitura jamais. Já tentaram, mas não conseguiram. As obras poderão migrar para outros portadores. Quem assistiu ao filme “Fahrenheit 451” conhece bem este papo.


Não podemos absolutizar o saber livresco, como se fosse único. As tradições também ensinam, Jesus Cristo deu dicas de como ler o mundo. Segundo os sociólogos, a sociedade que tem mais analfabetos no seu bojo tem a tendência de endeusar o livro. Fazendo um paralelo: só quem nunca operou um computador olha a máquina com certo encanto.


A grande escritora brasileira da literatura infantil, Ruth Rocha, afirma que milhões de pessoas viveram sob a égide do analfabetismo por milênios e ninguém vai morrer se nunca ler um livro. Embora ele não seja portador automático de sabedoria, a leitura dá outra dimensão para nossa vida.


Morreu José Mindlin em 28 de fevereiro, o Cavaleiro da Triste Leitura, um colecionador de coisas imprestáveis, segundo os obscurantistas. Até parece que com ele morre também o livro. Teve uma obsessão e ganhou notoriedade com ela. Saiu pelo como Dom Quixote, encheu suas próprias mãos de livros, raros ou não.


Muitos colecionam armas, ele juntava livros. Como outros cavaleiros andantes, achava que o mundo seria salvo por eles. Conseguiu até cooptar sua Dulcinéia. Se José Mindlin não salvou o mundo, pelo menos construiu uma trajetória de vida dignificante. Não era nobre em decadência como Alonso Quijano, nem seus amigos queimaram sua biblioteca no final dahistória para que saísse daquela loucura de se confundir com personagens de novelas.


José Mindlin colecionou livros e o presidente Lula, votos; mas o primeiro nunca atacou o segundo por causa de sua pouca leitura. O empresário de origem judaica aprendeu nos livros ser humilde, respeitar o outro; o presidente soube ler o mundo e interpretá-lo, por isso entendeu a alma do brasileiro.


Espero que os livros tenham levado José Mindlin também ao mundo das excelências, embora o Jesus Cristo tenha dito que os céus pertençam aos pobres de espírito.

3 comentários:

Rita Lavoyer disse...

Então, José Mindlin está na mídia, tanto quanto o presidente Lula.

A diferença de origem que os separa é visivelmente grande.

Ambos conseguiram consagrações incontestáveis por terem feito História dentro deste Brasil
de injustiças.

Assim como os dois foram acreditados por seus feitos, cada qual em sua área, outros tão próximos de nós também merecem oportunidade e confiança.

Homenagear os nossos próximos, fará de Araçatuba, tanto quanto faz o Brasil, uma cidade de personalidade,com personalidades.

Ainda que eu não viva entre todos os araçatubenses, mas por conviver entre alguns consagrados anônimos consigo interpretá-los.

Não sei se todos são pobres de espírito para agradar Jesus Cristo, mas são ricos de muitos talentos distribuidos por Deus quando os mandou filhos de Araçatuba.

Salve salve os araçatubenses, todos os que colecionam talentos e sonhos de um dia receberem votos de reconhecimentos por esta mãe cidade. E que todos que estamos no teu comando não sejamos Abel e nem Caim, simplesmente filhos teu, parte da História que a compõe, Araçatuba.


Do mais, vamos deixar aos mortos e dever de cuidar dos mortos.

Parabéns! Mais uma vez o senhor compôs um belo e expressivo texto.

Patrícia Bracale disse...

Gostaria de ler pelo menos todos os livros que tenho.
Conhecer esses meus amigos...

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Quando Deus disse " bem aventurados as criancinhas e os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus" cometeu o maior dos erros. O eleitorado brasileiro quer ir todinho pro céu, só pode ser isso.
Só que Ele não oferece muitas opçoes para agente: Dilma ou Serra. Respsta do Picasso, não serve.