AGENDA CULTURAL

19.3.11

A pedidos: Notas de falecimento

(Outubro de 2005)

As pessoas morrem, os amigos desaparecem. Algumas morrem cedo, outras vivem bastante, mas ninguém quer perdê-las. Nós nos perpetuamos nos outros, no mapa genético e nas lembranças.
(Não consigo escrever sobre a morte sem cair nos lugares-comuns: meus pêsames, foi para uma melhor...)
Se o sorriso é a alegria de viver, o choro é aceitar a morte, como a dizer:
- Sou mortal, por isso buááááááá!
Conhecido, perco um a cada dia. Leitores morrem e nem fico sabendo, mas entre setembro e outubro perdi três pessoas muito queridas.
A primeira foi a professora Tânia Mara Bonfim, moradora de Guararapes, que foi coordenadora pedagógica de meus tempos de EE Prof. Genésio de Assis, em Araçatuba. Parou de trabalhar para se internar.
Tânia Mara Bonfim
De repetente, algo nos pulmões. Entrou viva no hospital e saiu morta. José Edson Bonfim, seu marido, ficou ao pé da cruz, uivando seu desespero, por semanas. A Santa Casa de Araçatuba era o seu calvário. Dessa vez, Maria foi crucificada, e o homem chorou a morte da mulher.
Bonfim, o pai, e os filhos Fábio, Vinícius e Lara ainda esperam à noite a chegada de Tânia, mas ela foi para não voltar mais. Dormiu tão nova e não acordou.
Depois de alguns dias, foi a vez de minha tia Yolanda Fortin Guilherme, moradora do bairro Santana. Quase 90 anos, cheia de bisnetos. Devagar, ela foi sumindo, sumindo, adivinhou a hora de ir embora, não dava mais para segurar. Pelo tio Benevenuto, o marido dela, conheci pela primeira vez o que era andar num caminhão, na década de 50, na rua Aviação.    
O terceiro foi um médico. Aqui na FR, faço a revisão de anúncios comerciais e sociais. Por ironia do destino, já corrigi muitos obituários de amigos e parentes.
De repente, grito, para susto de todos do comercial:
- Ué! Fulano morreu?       
Assim foi com o Dr. Deroci de Carvalho, que fez o parto do Meninão, meu filho, na extinta maternidade Santa Teresinha. Ele fez muita gente saltar para a vida, mas no último dia 12 chegou a vez de ele saltar para a morte. Desejo a todos os falecidos que comprovem tudo: Dante Alighieri foi um enganador, o inferno não existe.

Um comentário:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

As pessoas morrem...espero que continue assim. O inferno nao existe? então o céu e o purgatorio,tambem.

"Si noi nom vejamo piu, que sea por la morte tua"...ditado italiano e a loba que não me caçe por este italiano desgraçado.