AGENDA CULTURAL

19.3.11

Trabalhar se divertindo - Afonso Toledo


(Texto escrito em 8/12/2000)
Hélio Consolaro*

A cidade ficou boquiaberta. Desde estudantes, professores, advogados, enfim, gente que estuda ou estudou, não acreditou quando ouviu ou leu a notícia.
Por várias vezes, ouço aquele chavão. Chavões são tão necessários à vida social: 
- Com a vida feita e não teve tempo de gozá-la.
Só o avarento justifica sua voracidade por dinheiro com o desejo de ter um futuro feliz.  Mas a vida se vinga dele, porque trabalha tanto, junta tanto, que não sabe realizar o pleonasmo “viver a vida”.
Há quem diga e ensina, e eu aposto nisso, que a vida não pode ser dividida entre trabalho e lazer. Assim não devia ser. O homem só vive bem quando não consegue traçar essa linha limítrofe. Negócio bom é trabalhar com prazer.
Acontece que nem sempre o corpo agüenta a impetuosidade do espírito e ele cai combalido. Carlão, ídolo do vôlei brasileiro, afirmou:
- Eu quero jogar, mas o corpo não ajuda, não resiste.  
Conheci Afonso Toledo na política, quando teve uma passagem meteórica pela secretaria municipal do Planejamento, no governo de Sidney Cinti.
No domingo, foi a última vez que o vi, quando ele visitou o grupo de professores de Português na correção dos textos dos vestibulandos. Em toda sessão de trabalho, que se repete semestralmente, ele prestigiava o grupo com sua presença.
Estava recheando o projeto de Eufrásio, de Maurício, dos Toledos, agora, dos filhos Novos cursos, prédios sendo construídos. Sua alma pulava de entusiasmo.
Maurício Toledo e Antônio Carlos Magalhães tiveram a mesma dor: perderam o seu futuro. 
Todo vivo acha a morte besta, ninguém aceita que haja morte feliz. Afonso acreditava na ressurreição, por isso morreu feliz, trabalhando. Não, se divertindo. Trabalhando com prazer naquilo que era seu.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. 

Um comentário:

JuarezFrmno disse...

Conheci o Senhor Afonso Toledo quando iniciei minha graduação na então Faculdades Toledo... Tatava-se de uma pessoa iluminada, que se aproximava de todos com um olhar altivo e um sorriso acolhedor... Seus cumprimentos eram motivadores e por inumeras vezes passava nas salas de aulas para um simples 'olá' e ver se tudo estava nos conformes. Além de excelente administrador e homem de visão, também tinha o olhar atento para as necessidades sutis da vida. Fomentou atividades esportivas e culturais... Certa feita visitou os ensaios do grupo de teatro, estava com vestido com a roupa de sua prática esportiva, as caminhadas, sentou-se no chão conosco, esticou o braço e apanhou um violão para dedilhar alguns acordes... Surpreendeu nos com um "Tears in heaven" e outras maravilhas. Todos nós sofremos quando ele partiu para junto do Senhor... Antonio Afonso foi, realmente, uma pessoa iluminada.