AGENDA CULTURAL

17.1.12

O Intec na cultura de Araçatuba


Hélio Consolaro*
Dependências do MAAP - Museu Araçatubense de Artes Plásticas -
que funciona na Casa da Cultura Adelino Brandão 


O Instituo Noroestino de Tecnologia, Educação e Cultura, Intec, é um ícone na cultura de Araçatuba. Cultura no sentido mais restrito, mais ligado ao padrão erudito.

Ao conversar com um sessentão que teve uma militância política contrária à ditadura militar ou era um participante da cultura marginal, falar do Intec é vasculhar o baú, encher os olhos de lágrimas, saudade pura. 

Precisamos analisar no contexto nacional o que representava o Intec. Parece paradoxo, mas foi durante a ditadura militar que a cultura oficial mais se organizou. Criou-se a Funarte (1975), o Conselho Federal de Cultura (1966), o Conselho Nacional de Cinema (1976), a Radiobrás (1976) e a Fundação Pró-Memória. Isso é um exemplo de que o autoritarismo não é fruto da ignorância, trata-se de uma posição política esclarecida.

O Intec não participava dessa cultura oficial, bem comportada. Fundado por um professor italiano, Franco Baruselli (PMDB), um social-democrata, que tinha ideias novas, arejadas. E debaixo do guarda-chuva do Intec abrigavam-se jovens psicodélicos, hippies, gente que falava de lado, olhava para o chão, porque faltava liberdade política. Era uma juventude partidária da contracultura. Os diferentes, os contras passaram pelo Intec. Havia uma efervescência cultural porque o obstáculo é um desafio.

Por isso, caro leitor, às vezes você pergunta a seus pais ou avós sobre o Intec, e eles demonstram um desconhecimento total sobre a antiga entidade. Ou eles eram alienados politicamente ou apoiavam a ditadura militar. Para eles, o teatro Castro Alves é um teatrinho qualquer. Não se trata de pichá-los, mas de fazer uma localização histórica.

No decorrer do tempo, tivemos a experiência dos CIEPS – governo Brizola/Darcy Ribeiro (PDT) - a criação do MinC em 1985 pelo governo Sarney (PMDB), a lei Sarney de incentivos fiscais. Marilena Chauí na secretaria municipal de Cultura do governo de Luíza Erundina – PSB - (1989-1992), passamos por Collor (PRN) que foi um desastre também para o mundo cultural. O lema do governo FHC (PSDB) era “Cultura é um bom negócio” e o ministro Francisco Weffort caiu no esquecimento.

O governo Lula (PT) resgatou o que está escrito na Constituição de 1988: “a lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais”.  O ministro Gilberto Gil convocou a 1.ª Conferência Nacional de Cultura, a gestão cultural (pública) está aos poucos sendo democratizada. Agora parte dos recursos públicos destinados à cultura é repassada à sociedade para que ela produza cultura. É o que o prefeito Cido Sério (PT) está fazendo com a implantação do Fundo Municipal de Apoio à Cultura. Poucos municípios brasileiros atenderam ao apelo do Minc para a democratização da gestão cultural (782 municípios num universo de 5.565), Araçatuba é um deles.

Assim, no mesmo prédio do antigo Intec, onde se encontra atualmente a Casa da Cultura Adelino Brandão, se fez sábado, 21/01/2012, das 9h às 12h, um curso de treinamento de como artistas, produtores e entidades culturais possam atender adequadamente aos editais da Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba ao financiamento (não é empréstimo) de atividades culturais na área de evento e fomento. Lá compareceram 50 agentes culturais. Para se chegar a isso, houve uma longa caminhada.  Não sabemos se é o melhor resultado, mas é o que queríamos.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP


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